Genes, ambiente externo, ensino e empreendedorismo – Afinal como nascem os empreendedores?
Durante um bom par de anos discutiu-se com algum fervor no meio académico a resposta à questão: “Nascemos ou podemo-nos tornar empreendedores?”.
Dos vários quadrantes apareceram sugestões e teorias sobre o assunto sem que se gerasse consenso. Até que alguns começaram a defender e a mostrar provas de que a escola pode ter um papel fundamental na formação para o empreendedorismo. Entenda-se empreendedorismo como muito mais do que a criação de uma empresa, inclui também o desenvolvimento de competências que favoreçam o intraempreendedorismo associado à inovação e criatividade em ambiente empresarial. Peter Drucker chegou mesmo a mencionar que o empreendedorismo não é mágico, não é um mistério, não está nos genes, e, como tal, é uma disciplina e pode-se aprender!
Considera-se que o empreendedorismo não depende de algo exclusivamente intrínseco ao ser humano, podendo ser influenciado pelo ambiente e estímulos externos que vão desde os círculos mais restritos da família e amigos até às instituições onde os indivíduos se inserem, e mesmo ao contexto nacional e regional do campo de actuação de cada um (Carvalho, Costa, Dominguinhos, 2010 [1] ).
É hoje ponto assente que o empreendedor “nascerá” com mais facilidade se houver um ambiente que lhe seja favorável. Sendo sublinhada a importância da criação de ecossistemas empreendedores (Carvalho, Costa, Dominguinhos, 2010 [2]) os quais devem incluir infra-estruturas físicas de suporte, mas também capital humano e social, redes e programas curriculares e extra-curriculares que potenciem a criação de empresas, de projectos com valor e a transferência de conhecimento.
Neste contexto, têm surgido diversos programas cujo alvo é a promoção do empreendedorismo. Hoje apresentarei um desses programas denominado por “Graduate Program” este é promovido pela Associação Aprender a Empreender – Associação dos Jovens Empreendedores de Portugal [3] (Junior Achievement Portugal). Esta Associação é a congénere portuguesa da Junior Achievement (JA), criada em 1919, nos E.U.A, a maior e mais antiga organização mundial educativa, sem fins lucrativos. Presente em 124 países, a Junior Achievement contribui para o desenvolvimento da educação empreendedora nos jovens de todo o mundo.
Em Portugal a JA detém parcerias com várias instituições de ensino superior, protocolando a participação de estudantes em programas extracurriculares de promoção do empreendedorismo. Os programas são financiados pelos seus associados que acreditam que a educação é uma importante fonte de riqueza e que investem e promovem a formação, o espírito empresarial e empreendedor nos jovens, concedendo-lhes a oportunidade única de se desenvolverem. O principal objectivo da Junior Achievement Portugal é pois, consciencializar os jovens para a importância de “Aprender a Empreender”. Pretende esta associação, fomentar uma atitude enriquecedora e potenciar a capacidade de se reinventar, através do erro e da aprendizagem, estimulando a auto-confiança para enfrentar novas situações cada vez mais importantes e difíceis, em várias dimensões/áreas como a cidadania, consciência activa, ética, literacia financeira e desenvolvimento da vida profissional. (Carvalho, Costa, Dominguinhos, 2010 [4]).
O Graduate Program, é apoiado e orientado por professores e por tutores voluntários do Banco Millenium BCP e visa fornecer uma formação empreendedora a estudantes do ensino superior. Através da criação, gestão e operacionalização de uma empresa fictícia, os estudantes têm a oportunidade de aprender sobre a estrutura do sistema empresarial. Todos os estudantes do Graduate Program têm a oportunidade de desenvolver aptidões relacionadas com a comunicação, tomada de decisão, organização, negociação e gestão de tempo.
As equipas, constituídas por alunos do ensino universitário e politécnico (ISCTE, UNL, ISEG, UP, IPS-ESCE), são avaliadas por um sumário executivo e por uma apresentação em palco de 4 minutos. Os critérios de avaliação mais relevantes são a aplicabilidade, a inovação, o potencial de mercado e a sustentabilidade da Mini-Empresa. Este projecto, e outros como este, que relatarei em edições futuras, constituem um forte impulso ao desenvolvimento de uma cultura empreendedora de suporte ao “nascimento” de novos empreendedores.
por Luísa Carvalho
(Doutorada em Gestão, docente na ESCE-IPS)
(Doutorada em Gestão, docente na ESCE-IPS)
[1] Carvalho, L; Costa, T.; Dominguinhos, P. (2010) "Creating an entrepreneurship ecosystem in higher education", Technology, Education and Development,Austria : I-TECH Education and Publishing (ISBN: 978-953-7619-40-4).
[2] idem
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